Data: Terça-feira, 13 de maio de 2008 Editoria: Opinião
Hospital do Fundão pára transplante
TCU engessa verba do SUS e unidade, sem dinheiro para pagar terceirizados, fecha leitos

Duilo Victor

O Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, da UFRJ, parou de realizar, por tempo indeterminado, todos os tipos de transplantes de órgãos. A medida extrema será seguida, a partir do mês que vem, do congelamento de parte dos quase 500 leitos do hospital, na Ilha do Fundão. A crise teve seu estopim no dia 2, quando uma portaria do Ministério do Planejamento proibiu a universidade remanejar parte do dinheiro que recebe do Sistema Único de Saúde (SUS) para pagar médicos terceirizados. Esses profissionais – 30% da equipe do hospital universitário – deveriam ser bancados pelo Ministério da Educação, que não realiza concursos públicos para cobrir a carência.
Diferentemente dos hospitais públicos comuns, o Hospital do Fundão não tem um orçamento fechado, mas recebe de acordo com os serviços que produz: internações, cirurgias e consultas ambulatoriais.
Todo esse dinheiro – cerca de R$ 4 milhões por mês – é administrado por meio da Fundação Universitária José Bonifácio. Para não diminuir as atividades e manter a média de 45 cirurgias por dia e 25 mil consultas por mês, o hospital gasta R$ 1 milhão mensal para pagar a terceirização de médicos.
Inspirado na crise instaurada na Universidade de Brasília com a gestão suspeita de fundações de pesquisa, o Tribunal de Contas da União recomendou ao Ministério do Planejamento que todos os gastos passassem pelo Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi). Sem a autonomia das fundações, o dinheiro que sai do SUS já vai carimbado, ou seja, verba para compra de material hospitalar não pode ser remanejada, por exemplo, para pagar médico.
– Não somos contra a administração de recursos pelo Siafi, que garante transparência. Mas o Ministério da Educação tem de reconhecer que a verba de custeio não é suficiente e pagamos funcionários terceirizados com dinheiro do SUS – declarou o diretor do Clementino Fraga Filho, Alexandre Pinto Cardoso, explicando que, além de tudo, os preços dos serviços médicos estão aquém da realidade. – Nos pagam a partir de uma tabela com preços de 2004, com defasagem de até 30 %. Nesse intervalo, houve uma inflação dos insumos e tecnologia hospitalar. Isso faz gerar dívidas com fornecedores e deixa o hospital em situação delicada.

Busca de apoio

O hospital universitário tem até o dia 2 de junho para se adaptar ao Siafi. O prazo é curto para treinar funcionários e catalogar todos os serviços e insumos no sistema. Uma reunião de emergência foi feita por iniciativa do presidente do movimento Frente Pró-Rio, Francis Bogossian. No encontro, o diretor do hospital apresentou o plano de restrição ao atendimento – que incluirá também não aceitar mais novos pacientes para internação e congelar as vagas de doentes que tiverem alta. No Fundão, realiza-se tratamento de ponta para portadores de epilepsia, pesquisa com células-tronco, transplantes de quase todos os tipos de órgãos sólidos e tratamento em outras 46 especialidades médicas.
– O Estado do Rio é historicamente preterido pelo governo federal desde que deixou de ser capital. Temos de aproveitar a nova parceria política entre os dois governos para solucionar o problema do hospital.
O objetivo da Frente Pró-Rio, a partir de agora, é lutar contra o tempo para conseguir reunir a bancada de deputados federais e senadores do Estado, melhorar o método de financiamento do hospital e encerrar a crise.